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Mostrando postagens de abril, 2009

Ainda a MasterClass

Aguinaldo Silva hospedado no bloglog com link a minha esquerda divulgou uma das centenas de cenas que fora obrigado a ler. A cena colocada no ar pertence a Ronald Antônio, um cubano amante das telenovelas brasileiras. Junto ao envio da cena, ele anexou um bilhete que advertia de sua impossibilidade de comparecer caso fosse escolhido e informando de sua paixão por Vale Tudo, conforme suas palavras uma obra – prima da teledramaturgia brasileira. A cena criada por ele é bastante criativa, beirando ao realismo mágico, porque torna Cardo um manequim aos olhos da mãe, Perpétua, quando esta flagra Tieta na cama com o sobrinho. Os diálogos são divertidos, ácidos e pontuais, porque não deixam em dúvida de que a megera sabe o que está acontecendo, só está fazendo de conta para mais à frente se aproveitar de toda a situação. Ronald Antônio se mostrou hábil com sua escrita burlesca e se pôs na dianteira no processo de seleção. Reproduzo abaixo a cena criada pelo cubano. Meus parabéns. E um abraço.

Eu, o Sesc e a Literatura

O Sesc – São João de Meriti terá uma atração inusitada para a região: a presença de um escritor. Isso não é uma novidade, porque muitos medalhões da literatura brasileira já passaram por lá, expondo seus trabalhos, sendo entrevistados e batendo papo com a platéia. Eu mesmo só vi alguns escritores de perto porque visitavam o Sesc – isso no tempo em que nem a grana da passagem sobrava para essa coisa supérflua chamada cultura. Porque lá em casa isso tinha um nome que deixava um gosto bom na boca: arroz e feijão. Porque depois de José ou emparelhado a ele, eu e meus doze irmãos não conhecíamos a expressão ou se tínhamos conhecimento dela, não era uma impressão correta, porque atribuíamos a alguns produtos televisivos essa chancela. Riacho Doce, O Santo que Não Acreditava em Deus, Tenda dos Milagres, O Homem que Falava Javanês e episódios criminais exibidos em genéricos do Linha Direta, programa exibido na emissora odiada pela maior parte dos xiitas comunistas. Lá em Pavuna era comum se di

Eu e a Literatura

A possibilidade de Cosmorama vir à luz esse ano é grande. Mesmo com contratempos de ordem financeira, porque nesse país não existem editores que não querem uma contrapartida para publicar um livro de poemas, alegam ser um empreendimento de risco, mesmo que o dito cujo venha recomendado por A, B ou C e embrulhado em ouro. Isso não me preocupa ou afeta. Persistirei. A minha editora,se ainda posso chamá-la assim, me sugeriu uma poupança para financiar o livro como uma forma de materializá-lo, disse que me fará bem porque será um exercício de paciência e perseverança. Pois bem, não tenho nenhuma dessas qualidades. Ou melhor, se as tenho, aproveito-as em doses mínimas, porque minha teimosia substitui a ambas e o carro anda. Mesmo com dificuldade ou com certo atraso nos pontos onde deveria estar,dando carona ou apenas me entretendo vendo o pôr do sol. Em suma, o livro irá acontecer: ou por milagre – porque alguém pode se comover com ele, ver o que muita gente de talento enxergou e perceber q

Ao Máximo do Desespero

Não tinha reparado, mas quando meu amigo Máximo Heleno decretou que estamos vivendo às pressas não pude de nenhum modo discordar, porque estava diante do óbvio, sem fuga e, portanto sem argumento para me convencer de que todos os eventos estavam em seu tempo certo. Talvez estivéssemos mesmo transgredindo alguma coisa, porque tudo foi tão rápido, você se lembra Máximo? Desde minha estadia em sua casa, ainda em São Gonçalo, com sua primeira mulher e filhos, quando estava dominado por mil demônios e todos sopravam de uma única vez idéias hediondas e fui recebido como igual, sem nenhum tipo de discriminação, com acesso ao calor daquela família e sem qualquer perspectiva pessoal: a não ser a comum dos homens em estado de desesperança: transformar minha vida em evento, em uma apoteose. Discursava sobre isso, inventava maneiras, aumentava o meu talento e sublinhava aquilo que somente se insinuava nos outros como se pudesse regar com minhas palavras lances futuros que regenerariam a minha orf

Ainda Sobre a Poesia

Meu contato com a poesia aconteceu muito cedo. Essa precocidade não é indicio de coisa alguma, somente de que me tornei um leitor de poesia com uma idade não recomendável para se iniciar nos perigos que proporciona o gênero tão fascinante quanto cruel. A idade era parte da infância, quando meu pai me deu uma seleta de versos do poeta Camões, que continha parte da lírica. Nesse período se discutia sobre o que pertencia ao bardo português e o que era engodo, em suma não se tinha a certeza de que os sonetos presentes naquele pequeno livrinho poderiam ser atribuídos de fato ao autor das Lusíadas. Lembrando que esse fato estava circunscrito à leitura daquele volume que trazia discussões dessa natureza para uma mente tão tenra quanto ingênua na apreciação daquilo que estava escrito. A Isto entendi de chofre, como diria um amigo português. A dúvida em relação a quem pertenciam os poemas, que centenas de estudiosos se debruçavam para perseguir-lhe as pistas lingüística e semântica – talvez não

Ensaios Biográficos

Mergulhei na leitura de ensaios biográficos. Na verdade, peças delicadas em que seus autores mesclam técnicas de ficção para narrar a vida de alguns tipos interessantes. O primeiro deles foi o de Hemingway,intitulado Sete Encontros com o Leão, da coleção Encanto Radical, escrito por Eustáquio Gomes. Neste ensaio, o escritor se utilizou de uma maneira inusitada para descrever a vida do biografado, inventou um repórter que acompanha os passos de Hemingway por todos os lados. Desde Paris junto a Geração Perdida, as aulas de boxe a Ezra Pound às campanhas do escritor na Espanha contra o avanço do fascismo, unindo a isso a cobertura do exílio do autor de Por quem os Sinos Dobram em Cuba e sua morte trágica em sua casa nos Estados Unidos. O texto é informativo, ágil, lembra uma pequena novela em que estivéssemos todos zanzando em algum lugar das paisagens descritas. Eustáquio Gomes é um escritor brasileiro da década de 70. Publicou trabalhos importantes como Jonas Blau que mereceu atenção da

Notícias Sobre o livro Cosmorama

Terminei meu livro de poemas – Cosmorama – com apenas 23 poemas. Isto surpreenderá um leitor de poesia, porque os livros costumam estar inflacionados, ter um número de páginas infinito e na verdade não a qualidade necessária reunida nos poemas que o compõem. Longe disto ser uma regra, mas, como é meu primeiro livro de poemas, mesmo estando próximo do gênero pelo menos há dez anos, não arrisco enxertá-lo com textos que ficaram de fora de uma seleção que contou com leitura de gente especializada e amante de poesia. A editora parece ter gostado do resultado. Porque o livro chegou às suas mãos experimentado por uma bateria de leitores especiais, que equivalem a um conselho editorial de peso. A isto agradeço a paciência dos meus leitores pelos e-mails insistentes, pelas colocações e interrupções para acerto de cada poema. Não nomearei aqui os meus queridos do " staff ", porque escandalizaria a muita gente descrente. Porque eu mesmo estou escandalizado. Criei um blog para abrigar a

Masterclass - Aguinaldo Silva

Participei de uma seleção realizada no bloglog do Aguinaldo Silva para uma masterclass de roteiro de telenovela. A experiência foi ótima, mas minha ambição era estar próximo ao escritor Aguinaldo Silva e não do noveleiro. Mesmo que pareça absurdo e convivam em uma mesma pessoa, não representam a parcela de Aguinaldo Silva que escreveu Lili Carabina ou Dez Histórias Imorais. A seleção contou com 1.132 candidatos, se não me engano. Seriam escolhidos 12 eleitos que praticariam a teledramaturgia guiados pelas mãos hábeis do autor de Senhora do Destino. Como já foi divulgada a lista dos pré- selecionados, 40 caras sortudos que se souberem aproveitar a oportunidade, sairão com uma boa bagagem dessa oficina de criação, resolvi postar minha cena que não foi aprovada pela comissão, não ferindo as regras do jogo - como manter o ineditismo até a divulgação do resultado. A tarefa era a recriação da cena da novela Tieta do Agreste em que Perpétua flagra Cardo e Tieta nus na cama e finge uma cegueir

Para Aurea, Sempre

A carne Antes da aurora Dissolver a tua carne, Desfiar teu corpo de figo Deixai-me colher no tempo O ramo do teu sorriso. Antes da palavra Colher teu silêncio, Da terra dividir teu perfume Deixai-me podar parte do teu lume. Antes do mar Amadurecer os teus barcos, A natureza fatigada dobrar o rio Deixai-me com a terra o teu ardor úmido.

Livro de Poemas Cosmorama

Criei um blogue para abrigar os poemas selecionados e escritos por mim. São todos dedicados a minha Musa Maior : Aurea. E a minha filha, Isabelle. http://poemascosmorama.blogspot.com/

Opinião Sobre Os Poemas

adriano espinola para mim mostrar detalhes 18 abr (3 dias atrás) caro mariel, embora deteste ler poesia na tela do computador, gostei muito dos seus poemas; se estes fazem parte do seu primeiro livro, quero lhe dar os parabéns; pude sentir um poeta com forte pegada, sensibilidade e domínio técnico que não se encontram de ordinário em quem se inicia neste duro ofício da poesia; aliás e a propósito, belissimo o seu "um poema para os mortos" (imaginei abrindo o livro); todos os poemas que vc me mandou realmente muito bons ("inventário", "a vida breve", "biografia"), inclusive os haicais ("acode a roupa branca/enforcada na claridade/a luz serpenteia no teto"; "as sombras envelhecem devagar") eles dão bem a medida do seu talento; publique logo o seu livro, meu caro! desde já o meu abraço e aplauso, adriano

Auto Retrato

Animal com mil calabouços Nos olhos de arbusto, Cultiva no sopro: o susto De possuir alma leve. Nave de sombras e carne Somada ao perfil enxuto, Uma galhada de ossos Em alarde. Ave finge E fere o crepúsculo Em tumulto álacre.

Poemas

Os poemas abaixo estão em ordem de qualidade, embora todos tenham um sginificado particular em trajetórias íntimas, ligadas diretamente ao meu amor. Foram feitos para Aurea e lidos para Helena Ortiz quando organizava o Panorama da Palavra no Teatro da Candido Mendes em Ipanema. Outro que escutou e desejou vê-los publicados é Máximo Lustosa, escritor e poeta, que se impressionou com parte do que aí vai escrito. Para satisfazê-lo digo uma novidade: o livro sairá. Já tem um título: COSMORAMA. Para Aurea Signo ígneo flor de fogo na linha do muro Pequeno sol aceso lâmpada / combustível Até extinguir-se Em pêlos, curvas linhas estreitas marcas de unha II Amor Lanças e Sombras Despenhadeiros e Destinos Corte no supercílio Cabelo arrumado em trança Imóvel - lança-se o cupido No armário da lembrança sonha o pequeno deus consigo III Linhas Vãos Desvios Mãos. Eu amo a cor dos seus lábios incandescentes que marcam vivamente a minha pele que apela

Sobre Jim Cluster

Muito obrigado, Sra. Karla Melo. Muito obrigado mesmo. "Lhe dou os parabéns pelas elipses narrativas, os jogos indiretos de vozes, pelo diálogo entrecruzado. Conto construído com muita ousadia, quebrando o estilo tradicional sem deixar o leitor perdido. Gostei. Querido desculpe a ousadia. Admiro seu trabalho, a linguagem muito particular que você desenvolve nos seus contos, sua bagagem literária e a maneira feroz com que você reivindica seus sonhos; pelo conto e por tudo isto parabéns novamente! Karla Melo"

Jim Cluster - versão corrigida

a Karla Melo A maior parte da infância apontava para dificuldades. O comportamento de Jim impressionava, não conseguia se acertar de modo algum. Na escola não aprendia. As reprimendas em casa não surtiam efeito. Passava a maior parte do tempo escapando das aulas. Roubava os cavalos deixados à beira da estrada. Galopava. Quando decidia abandonar o animal e voltar para casa, encontrava o proprietário e seu pai. Ambos com uma cara de poucos amigos. Ele me confessou que não há maneira melhor para se aprender a cavalgar. Conheci Jim Cluster em um bordel. Não que estivesse procurando mulheres. Não estava. Bebia. Defendia que aquele era o melhor lugar para um homem beber. Não faltava era companhia para um uísque ou um carteado. Porque nesses lugares sempre se tem uma mesa onde se pode apostar. Disso ninguém duvidaria. As bebedeiras de Jim se tornaram famosas. As brigas mais famosas ainda. Não havia aquele que não contasse alguma história fantástica a respeito dele. Muitos afirmavam que e

Desculpe o Transtorno, estamos em obra

Paralisarei o blogue por tempo indeterminado. A literatura sofrerá também os efeitos desse congelamento.

Algumas Opiniões Sobre os Poemas

A minha poesia – escassa e tímida – tem leitores muito exigentes. A editora e poetisa Helena Ortiz que me estimula com bastante cuidado e me previne contra as supostas facilidades do gênero. O poeta Armando Freitas Filho que lê e não se desgosta do caminho que tomo em meus escritos. E Jorge Tufic, grande poeta acreano, que vigia, sem perder de vista, esse aprendiz. ---------- Forwarded message ----------From: Antonio Carlos Secchin Date: 13/04/2009 20:44Subject: RES: Poemas - OpiniãoTo: Mariel Reis Prezado Mariel: Percebo em seus textos um potencial de qualidade que me leva a supor que você tem todas as condições de se consolidar como poeta. Gosto da imprevisibilidade de imagens da “Biografia”. Bons os haicais (mas é senda muito explorada). Gosto menos do andamento algo binário de “Sobre a natureza” (doente x sadio etc); ainda que você descarte as polarizações, não deixa de evocá-las (Bem x Mal). Acho que “Um poema para os mortos” flui melhor até a quarta estrofe, anterior à profusã

Inventário

Para Helena Ortiz O poema se debateu em mim como asas de um anjo que não tivesse lugar no meu interior – breve Insinuado A voz do tempo sussurra ao poeta: A natureza é seu inventário.

A Vida Breve

Para Máximo Heleno Todas as palavras Um itinerário: De sombras e vazio No aspecto gráfico. Um som rouco, Estalido De fera e domador Fundidos Em solidão. O poeta sonda O terreno árido Da mão Na rodoviária De destinos. Todas as palavras Um itinerário: Intestino Sem comunicação Canto avesso da ave Desdobrada da ilusão: A poesia pergunta - Sem resignação Com ódio - A vida cabe?

Um Poema Para os Mortos

A Leonardo Martinelli Em algum lugar Minha voz se alcança E estilhaça. Divide méritos Monturos, E sobre o fio Do mundo - circuncidada - Arma um pacto Violento de amor Entre o sol e a flor, A pedra e a calçada, Minha voz segue Estrangulada. Combina explosões No alçapão de sombras. Em algum lugar Minha voz se dizima Longe de si:esconjuro Ramos de um tempo Incerto de rimas. Poetas cavalgam O escuro, Animal fluido Escorrendo Do olho imenso da noite. Minha voz Infinita gangorra, De deuses lânguidos E entristecidos Saudosos das Gomorras Dos sentidos, Amando um Rimbaud bêbado. Joga-se no mar Da existência - o berço – Não sabe se viveu A parte ou terço, Do sexo infinito. Minha voz É um Prometeu.

Conto Circunstancial

Zilá batia o bolo. O pote de fermento virado sobre a mesa. As mãos cobertas de massa. Turvaram-se os olhos em duas sombras. Pássaros pavorosos que esvoaçavam do seu íntimo. Não poderia recolhê-los. Debatiam-se nas panelas areadas. Voavam sem caminho. No ar, riscaram um vôo enforcado.Incomodados com a luz. Refugiaram-se novamente sob a sombra dos olhos turvados. Untou a forma com manteiga. Verificou a temperatura do forno.Ligado há cinco minutos. Saíam espadas de seu coração ferido.Por que ele não me disse? Pensou. Não acudia resposta. O cão olhava enfarado para as pernas de sua dona, movimentando-se de um lado para outro. Uma agitação estranha. A casa vazia. Um silêncio caminhava com pés de anjo pelos cômodos. A madeira dos móveis estalava. O calor discreto subia pelas coisas. Ele era casado, ponderou Zilá. Casado. Afogueava-se. Um caldo quente e escuro entornava dos seus lábios, as palavras não lhe resgatavam do estranho sufocamento que sentia. Tirou a blusa para desalojar do corpo aq

Uma Frase

Li esta frase em uma crônica de Hosmany Ramos. Como destoava do conjunto em que estava inserida resolvi pesquisá-la para descobrir o verdadeiro autor. Seguem a frase e o autor: "Há, em qualquer infância, uma antologia de mortos". Nelson Rodrigues.