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Mostrando postagens de janeiro, 2008

Bashô Um Santo em Mim

I Sombras./ A claridade/ envelhece devagar. II As folhas/Dançam leves/ pequenos pés. III Acode a roupa branca/ Enforcada na claridade/ A luz serpenteia no teto IV Alegre/ veste a dúvida/ A existência é uma dívida V Sonhou a borboleta / Asas de sol e lua/ O olho aberto : o lago

Biografia

Para Aurea A voz saía fina como silvo do vento a menina solta no ar com cabelos de catavento sonhando em se fazer ao mar e do mar ao esquecimento a minha imagem se desfazia sob a força de um temporal o ciúme que havia entre aquela antes retida e esta outra desigual dividiam a mim e a menina. e como no longo espelho minha imagem cheia de quinas morta, sem um desejo a página branca acaricia riscando - a de tantas linhas.

Difícil ser funcionário

João Cabral de Melo Neto Difícil ser funcionário Nesta segunda-feira. Eu te telefono, Carlos Pedindo conselho. Não é lá fora o dia Que me deixa assim, Cinemas, avenidas, E outros não-fazeres. É a dor das coisas, O luto desta mesa; É o regimento proibindo Assovios, versos, flores. Eu nunca suspeitara Tanta roupa preta; Tão pouco essas palavras — Funcionárias, sem amor. Carlos, há uma máquina Que nunca escreve cartas; Há uma garrafa de tinta Que nunca bebeu álcool. E os arquivos, Carlos, As caixas de papéis: Túmulos para todos Os tamanhos de meu corpo. Não me sinto correto De gravata de cor, E na cabeça uma moça Em forma de lembrança Não encontro a palavra Que diga a esses móveis. Se os pudesse encarar... Fazer seu nojo meu... Carlos, dessa náusea Como colher a flor? Eu te telefono, Carlos, Pedindo conselho.

Carta ao Amigo Distante

Dedicado a J.A.V. É necessário que alguém rompa o silêncio, vença a si mesmo na direção da reconciliação, isto me aconselha minha mulher, sabendo do meu orgulho e do gênio difícil que carrego comigo, portanto este é o meu passo para que este muro caía, para que o passado fique onde está, não que iremos desprezá-lo, porque de alguma maneira foi parte de nós, mas silenciaremos o que nos causa esta dor extrema até que juntos possamos compreender o que a formou e em que ponto feriu este afeto que nos unia, isto assim tão sem propósito. Se for necessário que alguém se exponha, mostrando fraquezas, veleidades, deste modo como apareço aqui para que você, onde esteja, saía de sua caverna, e veja, que agora é preciso recomeçar o diálogo daquele ponto interrompido, amordaçado, onde as palavras não encontravam o lugar certo em nossas bocas, e a vaidade interferia demais em nossos juízos a respeito de tudo, e o orgulho que não me permitia ver que as decisões às vezes não obedecem claramente uma ra

Observações de Leitura

A leitura de Céu Baixo, livro de estréia de Máximo Lustosa, é lenta. Reinicio a jornada de trabalho com cuidado para não cometer equívocos,porque neste ano do rato, horóscopo chinês, toda verdade aparecerá, mesmo que lentamente. Preferia ler os contos de Céu Baixo sem perceber neles a intromissão da moralidade cristã, porque o autor parece pertencer ao ambiente dos escritores católicos como George Bernanos – Sob o Sol de Satã – e Octávio de Faria – O Lodo das Ruas. A leitura das narrativas – porque algumas do ponto de vista formal se afastam da noção clássica de conto – impregnada pela reflexão da culpa e da má consciência diante de uma realidade onde a impotência do escritor incomoda é um dos pontos que precisariam de uma reavaliação. Não necessitamos de um autor que construa uma pedagogia para nos explicar nossas vicissitudes – a igreja e os livros de auto-ajuda se ocupam disso nos dias atuais, e com muito sucesso. *********************************************************************

Perfil Brasileiro VII

Não, não vou insistir para contar outra versão,mesmo porque não pode ter outra maneira de relatar o fato que não seja esta mesma em questão,não se pode fazer de uso e abuso de uma língua traiçoeira desta sem que se escorregue, sem que se intrometa no meio das palavras os quês e porquês, se mesmo quando se está vivo é impossível evitá-los, contorná-los sem que se arranhe a consciência no desvio, então não me atrevo a emendar mais uma linha no conto, se outro ponto aparecer a culpa não é mesmo minha que sempre tive pouco talento para esticar qualquer conversa, mesmo dificuldade para se botar um ponto final. Mas, acho que não tem importância. O melhor mesmo é desembuchar as coisas todas bem devagar para que a prosa tome corpo, não pareça conversa mole de passante de botequim como muitos pensam que sou e possa mesmo parecer se enfrentado com um olhar atento os meus trajes – não são de rei, porém plebeu nenhum enverga uma camisa bonita como esta, toda estampada, vinda da capital de contraba